Sobre escolhas - O nascimento

A saída da Matrix para mim foi algo revelador.

(Ok, ainda vivo outras matrix, mas a maternal já consegui ao menos começar a digerir a pílula vermelha.)



A diferença entre mim antes, mãe da Jade, e agora, mãe da Jade e da Laura, é outra. E isso se percebe claramente.

Em 2010, eu era a favor do parto normal, que minha médica faria sim, que ela tinha anos de experiência, que eu deveria confiar nela e tal, afinal era a minha médica de anos. Caí numa cesárea indesejada. Que a amamentação iria ocorrer até antes de 1 ano de idade, porque criança grande mamando era constrangedor.  Jade desmamou tão logo eu voltei a trabalhar, com 8,5 meses. Que dormir na cama dos pais está fora de cogitação, seria berço e pronto. Jade foi para o berço dela com 21 dias, e antes dormia num carrinho...

Como eu estava errada. Como pude ser tão tola?! Como pude errar tanto? Acreditar que comigo seria diferente? Como?!

Daí fiquei grávida novamente. Acho que a mudança começou quando fiz reeducação alimentar que preciso voltar =p para engravidar novamente. Foi uma mudança de pensamento que brotava, que eu deveria me cuidar e querer o melhor para mim e para os meus.
Mantive a mesma médica de antes, achando que dessa vez conseguiria mudar a forma de nascer.
Mas o estalo veio a tempo.
O sacolejo veio a tempo de conseguir mudar o rumo que a gravidez estava tomando.
Tomei as rédeas de minha vida.
Tomei para mim a decisão de ser e fazer o melhor que eu pudesse.

Foi A revira-volta. Busca de médica e tudo mais e consegui.

Pari fodasticamente.

Desculpa quem nunca viveu essa experiência e acha feio a palavra PARIR. Parir é lindo! Parir é vida. Parir é morte! Parir é renascer. Parir é torna-se a fênix de si mesma. Morrer a filha para renascer a mãe.

No nascimento da Jade foi estranha a sensação. Às 19:25 eu estava grávida e às 19:26 ela foi nascida. Sim, foi nascida. Não era o momento dela nascer. Ela foi arrancada de meu ventre, sem qualquer trabalho, preparo ou aviso. A visão que eu tinha era de panos e luzes, e meu choro pela cesárea desnecessária. Sentia o frio da sala e perguntava onde estava a minha bebê, pois TODOS a viram. Menos EU, sua mãe. Ela foi apresentada para mim rapidamente, sem qualquer contato pele a pele, sem mamar imediatamente. Só voltou para mim horas depois.

Já no nascimento da Laura a sensação foi completamente outra! Meu corpo trabalhou, se preparou para o nascimento de um bebê. Foi um trabalho rápido, diga-se de passagem, mas foi no tempo necessário para que eu me preparasse. Para que eu soubesse que seria mãe novamente. Eu estava grávida até 00:55. Em trabalho de parto entre 00:56 e 04:42 e às 04:43 Laura nasceu. Sem panos (sim pari sem roupas! Pudor? Isso é a última coisa que você pensa. Rá!). Sentir um bebê nascer, sentir um novo ser fazer a transição para este mundo é algo que TODA MULHER deveria ter. O calor daquele corpinho no seu. Do seu peso sobre você, de olhá-lo, e observá-lo ver o mundo pela primeira vez.
Não tinha pano nos separando!!

Comparando as duas experiências, não sei e não entendo realmente como alguém escolhe (ou permite ser induzida a) uma cesárea. Não estou falando de cesárea intraparto, necessária MESMO. Estou falando daquelas por conveniência médica ou mesmo da mãe, pois nascer dia 12/12/12 é uma data linda para jamais esquecer. Mas quem disse que 14/12/12 também não seria?! Fico indignada quando se apresentam os fatos para mulheres (muitas vezes instruídas, com diplomas na mão) e elas não enxergam a realidade que estamos enfrentando.

Ouço muito: "minha cesárea foi ótima, recuperação também. Pude tomar banho no dia seguinte. Não senti nada. Nem o corte. Nada". Aí vem na minha cabeça, eu pude tomar banho 1 hora depois do parto, DEZ MINUTOS depois  eu estava tomando iogurte e deitada de lado na maca, conversando! Na cesárea também não senti nada: não senti emoção, não senti o calor de minha filha. Senti muito por ter passado por aquilo, eu não queria. Mas não fui consultada. Não importa que "o bebê nasceu bem". Será mesmo? Basta ter apgar 9/10?! Tem certeza?

Cesárea é lucrativa para todos, MENOS para a mãe e seu bebê. Mas espera. Quem é que deveria ter lucro nessa realidade? As coisas estão invertidas!! O bebê acabou de chegar aqui na Terra, e vai ser recebido nessa maneira fria, violenta e formal?! Cadê o respeito?! Depois a gente não sabe porque o ser humano está tão violento.

Infelizmente não há mais ocitocina natural no nascimento.
O hormônio do amor está fazendo falta.
Até quando vamos permitir isso?!
O que VOCÊ está fazendo para mudar essa realidade?
Pra mudar o mundo, temos que sair da nossa zona de conforto... E já me levantei. E você?

Eu vivi as duas experiências. E posso dizer com convicção que faria mil partos a uma cesárea.

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